quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

LAMENTO

Acordei cedo e saí,
Quando o sol se levantava!
Encontrei um bem-te-vi,
Num ramo que balançava.
Dei-lhe bom dia e parei
(Por sorte não o assustei),
Para ouvir o que cantava!

Puxei conversa com ele,
Perguntei, com gentileza,
Que canto seria aquele,
De alegria ou de tristeza?
Ele, expondo suas penas,
Disse-me aquilo era apenas
Um lamento à Natureza...

Papo vai e papo vem,
Ele ficou meu amigo,
Mostrou-me como ir além,
Diante de qualquer perigo,
Pois que a natureza é sábia,
Não há truque, não há lábia,
Não nos deixa em desabrigo!

Contei-lhe sobre os meus sonhos...
- Pois sonho muito a voar;
Sonhos bons, nunca tristonhos,
Dá dó até de acordar!
Ele então se ofereceu
A ensinar-me o que aprendeu
Pra, de verdade, eu voar!

Ganhei altura e coragem,
Voei por sobre a campina,
Lagos, rios, e pastagem,
Fui ao topo da colina!
De lá eu vi as cidades...
Vi seus medos e ansiedades...
Coisas que nem se imagina!

Vi rastejando nas ruas
A maldade e a ganância,
Os roubos, as falcatruas!
Vi do alto e à distância,
Que é a desordem que impera,
Na loucura que acelera,
Cedendo a qualquer instância!

Vi rios virando esgoto,
Abandono de animais!
Vi mendigo todo roto
Tudo isso e muito mais!
... Mas não vi os governantes
Transitando entre os passantes
Portadores dos seus ais!...
.................................
Ser um pássaro cantante,
Viver livre, sem problema,
Quem não quer, por um instante?...
Nesse cordel, que é um poema,
Deixo lamento e tristeza...
- Livremos a natureza
Desse abandono constante!

Façamos prevalecer
A força que é do povo!
Não nos deixemos vencer
Só pelo belo e o novo!
Gritemos em alto brado,
Apontemos o errado,
Não sejamos qual deutovo!

NOTA: Significado de deutovo: A larva inativa incompletamente desenvolvida de um ácaro, após a ruptura da casca externa do ovo.

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