segunda-feira, 1 de junho de 2020

NÃO SEI SE FORAM SONHOS



Beijei-te em sonhos, vadiei nas ruas,
quando acordei, quis te beijar de novo;
saí, te procurei naquele povo,
vi muitas saias... mas não vi as tuas...

Loucura? Eu te beijei em tantas luas...
dobrei esquinas, imitei corcovo,
dos galhos d’árvores quebrei renovo,
furei meus quadros, estraguei as puas!...

Foi tão real sonhar sonhos tão loucos,
inda duvido fossem sonhos só!
Hoje... dos beijos que não foram poucos

sobraram dúvidas... tristeza e dó!
Meus gritos mudos já ficaram roucos!
...No rosto há pranto; na garganta, um nó!

domingo, 24 de maio de 2020

TEUS PÉS






















São pés angelicais teus lindos pés,
Que pisam levemente em minha vida!
São como adornos finos em painéis,
suavemente postos, em medida!

A Natureza usou, pra desenhá-los ,
a fôrma dos arcanjos celestiais;
as rosas do Éden pôs a perfumá-los
e suavidade lhes foi dando mais!

Depois de prontos, a Razão Divina
deu-lhes a bênção Eternal, Suprema,
e os colocou em ti, linda mulher!

Essa leveza muito me fascina
e enche-me a vida de uma graça extrema,
enquanto apreciar-te ainda eu puder!...

sexta-feira, 22 de maio de 2020

TERRA BENDITA





















Um belo globo azul gira adiante
- eu comentei num disco voador –
ET olhou-me e disse... é linda a cor,
tem brilho intenso igual um diamante!

...E a Terra ali girando, fascinante,
fez-me sentir orgulho e mais amor!
Descemos pra sentir o seu calor,
e eu disse... eu moro ali... não é distante!

Na imensidão do cosmos não vi nada
que parecesse igual ou mais bonita
quando voei... em longa temporada!

O ET me disse... a Terra é uma pepita,
e entre os planetas ela é a mais amada
- e disse... ela é de Deus... Terra bendita!


quinta-feira, 14 de maio de 2020

O GRITO DE UM POETA




















Do tronco agonizante sai resina,
a lágrima do corte desferido...
o choro é mudo, o caule está rendido,
ao golpe de uma vil mão assassina!

A direção do talho dita a sina;
a mata agora chora o irmão caído,
diante do regozijo de um bandido
a rir-se de uma vida que termina!...

O pranto da floresta nunca afeta
o interesse sórdido que oprime,
e o criminoso cumpre a sua meta!

Mesmo acusado, nunca se redime.
A lei não é cumprida – grita o poeta –
...a impunidade é o SPA de todo crime!

segunda-feira, 11 de maio de 2020

BRASIL-Entre o querido e o perverso

Nosso país é grande e tão bonito!
Sotaques regionais, riqueza e mimo,
um cafezinho... um cafezim... me animo!
Um povo alegre, quase nunca aflito!

Um litoral de praias infinito,
um sol que queima dentro, lá no imo!
...Do vale fértil, do penhasco ao cimo,
um grito ecoa longe... qual apito!

Ah! Meu Brasil querido tão diverso,
és belo em toda a grandiosidade
...mas índio sofre e morre ante o perverso!

Escravos há e muitos, sociedade!
Atente ao que eu lhe afirmo neste verso:
 ̶  Não há país feliz... sem igualdade!

sexta-feira, 1 de maio de 2020

SÚPLICA



















Desdita, essa política nefanda,
que abriga desalmados, desumanos,
perpetra pelo mundo e há tantos anos
maldade perjurada e execranda!

Ó céus, por que essa gosma não desanda?
Por que tanto sofrer e desenganos?
Senhor, agridem gregos e troianos
as mãos de quem governa, de quem manda!

Ó Pai, vem ajudar à tua gente,
que aos trancos e barrancos vive e luta
e ao jugo do poder é impotente!

Acode a todo o povo que labuta
e a cada virulência cai doente!
Só Tu... és o Maestro e a Batuta!

terça-feira, 28 de abril de 2020

CORES x PRECONCEITO














Sentei-me a meditar no fim do dia,
enquanto olhava as rosas do jardim...
Havia rosas rosas e carmim;
as cores convivendo em harmonia!

Se o mundo fosse assim... Ah! Eu queria!
Pensei... olhando as rosas frente a mim.
Havia rosas negras com jasmim,
jasmim de alvura tal que refletia!

As cores se misturam sem dilemas,
vivendo na harmonia do perfeito            
carmins com violetas, alfazemas...                     

˗ Eu vi vermelho e preto, o amor-perfeito!           
Tão nobres, rosas nunca são problemas.
Nós é... que carregamos preconceito!

terça-feira, 21 de abril de 2020

SONETO OCCITANO



















Um dia a vida veio... um dia passa!
Ninguém segura o tempo, esse vilão.
A vida não se vê pela vidraça,
nem se ultrapassa o tempo num vagão!

Meu trem corta a neblina que ora embaça
e segue como um barco sem timão;
a vida, se parada, não tem graça!
Melhor viver a vida do que não!

Se um dia nesse mundo alguém pudesse
frear do tempo as rodas um segundo,
por certo eu lhe faria até uma prece

e deixaria de ser um vagabundo;
˗ eu pediria na festa da quermesse
a vida mais longeva desse mundo!

sexta-feira, 10 de abril de 2020

SUTIL E FUGAZ - 'tempus fugit, carpe diem'















O tempo passou e levou-nos as vozes,
as horas de prosas na porta da rua...
cantigas cantadas à luz de uma lua...
os contos de onças, de bichos ferozes,

mentiras contadas em lendas atrozes,
Mãe d’água, Pé Grande a puxar a charrua,
a loira encantada mostrando-se nua,
Saci Pererê, Malazarte, albatrozes...

Ah! Tempo gostoso de tantas gincanas,
de coisas tão belas, singelas, bacanas...
ninguém nem pensava no que ele é capaz!
..............................................................
Levou nossos dias, soltou-os no universo...
restou-nos a lua ˗ sem contos ˗ e o verso:
˗ O tempo da vida... é sutil e fugaz!

sábado, 4 de abril de 2020

EXORTAÇÃO





















Um dia, quem sabe, bem lá no distante,
nós vamos olhar o passado saudoso
e então nos lembrarmos num jeito choroso,
dizendo seus nomes, lembrando o semblante

dos entes queridos... daquele falante,
daquele engraçado, daquele feioso...
Lembrar com saudades do colo amoroso,
dos beijos e abraços... lembrar cada instante...
..............................................................
Caiu nossa ficha, o viver nos assusta!
A nave do tempo, que achamos injusta,
não tarda a passar e a levar-nos embora...!

Se um dia, lá adiante, num mundo qualquer,
de novo estivermos  ̶  ou homem ou mulher  ̶
 ̶  Amemo-nos todos... bem mais do que agora!

terça-feira, 31 de março de 2020

A NOVA 'ESTAÇÃO' (5ª dimensão)















(soneto hendecassílabo)

Os anjos do céu entoaram seu cântico,
tocaram trombetas mandando o sinal;
os mares tremeram, pacífico, atlântico,
ao eco vibrante de um grito brutal!

As nuvens cobriram o céu colossal,
o sol lançou jatos de olor quase enântico,
a lua e o luar de um outrora romântico
sumiram nas trevas no escuro abissal!

Os anjos desceram nas cores do céu
em trajes de gala e envoltos em véu
...e a terra deixou sua velha missão!
...........................................................
O mundo acordou... e o céu se abriu
e veio a bonança e o mal sucumbiu
...abriu-se o portal para a nova ‘estação’!

segunda-feira, 30 de março de 2020

MUNDO EM RODA VIVA













Foram-se aqueles dias de folguedos...
o povo a andar tranquilo na cidade;
nas ruas, sensação de liberdade;
caminhos sem tropeços e sem medos!

Nos parques... pais, crianças... os brinquedos...
O tempo transformou tudo em saudade!
Humanos que se davam de verdade
fecharam-se em passados e segredos!

Aqueles que já foram, se voltaram,
não sabem das sementes que plantaram
e amaram nessa antiga encarnação!
......................................................
O mundo agora entrou em roda viva,
mas Deus já nos mostrou a diretiva
...com Ele venceremos toda ação!

terça-feira, 24 de março de 2020

A DERRADEIRA




















Seduz-me o seu fulgor de tez velada
˗ na pálida penumbra sob um véu ˗
a olhar eternizada rumo ao céu
na pouca luz do sol amarelada!

Sutil e em gestos finos disfarçada,
esconde sob o linho o seu troféu
e deixa-me ao soçobro em meu ilhéu
num barco cuja vela foi içada!

Os ventos me sopraram como dantes
˗ tal qual longínqua saga... à vez primeira ˗
e as lendas e aventuras dos amantes...

Morri-me sob o olhar de uma trigueira,
que o tempo me ofertou por uns instantes
...na última aventura ˗ a derradeira!

domingo, 23 de fevereiro de 2020

O BEIJO GELADO da bela dançarina
















As luvas que ela usava tinham marcas
do rouge e do baton cor de carmim!
As plumas esvoaçavam no cetim,
enquanto os pés douravam as alparcas!

O baile era o mais fino entre as comarcas
e havia mesas postas no jardim;
(um luxo em carnaval para os monarcas)
˗ Sentei-me em meio ao cheiro de jasmim...

De súbito, soprou-me ao meu ouvido,
num misto de sussurro e de gemido,
a voz mais doce e terna que já ouvi!

Virei-me e... era a bela dançarina,
qual fosse um holograma em purpurina!
Beijou-me e disse... adeus... eu já morri!

A LÓGICA NO EFÊMERO DA VIDA















Ofusca aos olhos meus e aos olhos teus,
o brilho que cintila qual estrelas,
na luz que nos fascina só de vê-las
...Ofusca aos olhos teus e aos olhos meus!

Se pérolas expostas nos museus,
o preço eu pagaria para tê-las;
ourives eu teria a refazê-las;
o ateu viria a ser um semideus!
....................................................
Enquanto o cintilar externo afronta,
a vã sabedoria desaponta...
e perde-se no brilho que há por fora!

A lógica da vida não se perde!
Perdem-se o brilho e as joias que se herde
˗ O corpo fica... a alma vai-se embora!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

NOTÍVAGA




















Despetalada flor em rubro leito,
a retorcer-se em gestos de luxúria,
avulta-se de arroubos quase em fúria
na maciez da pele onde eu me deito!

Fervilha o sangue ardente em nosso peito,
sem termo ou sem medida, sem lamúria,
e lança-nos incautos sem penúria
no ato mais gostoso e mais perfeito!

Invade-nos a lua na madrugada,
enquanto a brisa afaga enluarada
as curvas do seu corpo onde eu me faço!

Notívaga... se mostra inda mais bela
e lânguida se vai, pela janela...
.....................................................
Eu nunca mais deitei-me em seu regaço! 








segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

SUSSURROS















Não sei o que dizer quando, em lampejo,
sussurras para mim sem me avisar
e em pétalas te mostras devagar,
na maciez da pele que ora vejo!

Por toda essa nudez que é meu desejo,
o mundo em mim se curva a me cobrar,
mas entro na volúpia desse ensejo
e enrosco-me em teu corpo a me instigar!
.........................................................
Não conto mais o tempo... vão-se as horas...
os ais se reverberam... tu nem coras,
imersa na fusão que propusemos.

Dizemo-nos loucuras, tantas coisas,
que o mundo nunca disse em velhas loisas
...e nunca alguém dirá... como dizemos!