sexta-feira, 9 de março de 2018

PEDAÇOS DE NÓS DOIS

















Por onde você anda?... Há tempos não a vejo...
Aquela foto antiga está descolorindo;
Tornou-se agora tênue imagem, se esvaindo...
Já não reflete o brilho do que foi desejo...

Por onde andam teus pés, fugindo do meu beijo?...
E o teu olhar sutil, discreto, me seguindo?
O teu pensar ao meu igual... coincidindo...
Onde andam tuas mãos que eu já não mais manejo?...

Parece que tua sombra ainda anda por perto,
Mas já não é o oásis desse meu deserto...
Não há mais o jardim... nem flores... nem botões...

Veio uma tempestade forte que assolou
E abriu u’a fenda enorme e em mágoas enterrou
Pedaços de nós dois e nossos corações...

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O BOM SAPATEIRO é artista e é lenda














Sentado e encurvado, martelo e torquês,
a fôrma no colo e a peça de couro,
cuidada com esmero qual fosse de ouro,
tachinha entre os lábios, prega uma por vez...

Por fim, ao calçado ele dá altivez,
trazendo a certeza do lucro vindouro!
...O bom sapateiro ainda pole o tesouro,
deixando-o ao gosto de cada freguês!

A indústria chegou assumindo o seu posto!
Fez muitos calçados de bom e mau gosto,
fez lotes e lotes janeiro a janeiro,

ditou tantas modas a seu bel-prazer!
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Ainda perduram, que bom lhes dizer,
a arte e o talento do bom sapateiro!

sábado, 27 de janeiro de 2018

TECELÃO, um artista milenar


















O fuso faz linha de fino algodão,
que ganha outra vida com bela aparência,
tecida em teares de antiga existência,
urdida por arte do bom tecelão!

Já pronto o tecido, uma bela criação,
deslumbra a quem vê e constata a excelência,
ganhando o mercado, se expondo em balcão,
a ricos e nobres de muita influência...!

Os louros devidos, a estima, o apreço
ficaram sem vulto, por baixo de um preço,
que as mãos calejadas, jamais contarão!

As horas e os dias de tantos labores
serão relembrados, talvez, por atores
de humildes papéis... como o de um tecelão!...


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O VELHO FERREIRO (soneto hendecassílabo)


Na forja o ferreiro moldava o metal,
saído do fole qual brasa inda ardente,
e ali na bigorna, martelo e avental,
criava o perfil que brotava da mente!

O humilde artesão foi figura presente
num tempo longínquo beirando o feudal,
perdendo-se em luta cruel, desigual,
rendendo-se à indústria voraz e inclemente!

Lembranças ficaram da forja e do fole,
do ferro ainda em brasa fazendo-se mole
e o velho ferreiro empunhando o martelo...

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Aqui vos relembro, em singela oblação,
a espada e o escudo, a couraça e o brasão
− forjados num tempo sem mais paralelo!...



quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

LUME ACESO














E segue o nosso barco... até o adeus!
Vai cheio de bagagens tão diversas,
levando os versos meus, levando os seus,
guardando de nós todas as conversas!

Bem lá, juntam-se as coisas mais dispersas,
até velhos poemas... como os meus...
e as rezas pelas almas dos ateus,
que insistem nas antíteses perversas!

O rio abre seus braços – majestoso –
e abraça de roldão o que ele encontra...
− Proteja, pois, seu barco e o deixe ileso!

O leme, entregue-o a Deus, que é Poderoso;
e saiba: Venceremos qualquer contra,
enquanto a nossa fé for lume aceso!

sábado, 18 de novembro de 2017

VOYAGER - A Nave Terrestre













Nave feita de sonhos em etéreas lidas
singrando o infinito num vagar intenso
vai  deslumbrando a ótica de um mundo denso
vai desbravando o incógnito de tantas vidas

Sonhos de apelo incerto, de duras medidas
pintando um ponto móvel no Universo imenso!
Os nossos sons gravados são mãos estendidas,
pacíficas criaturas bafejando incenso!

Nave de sonhos feita, porta-voz da Terra,
silente e elegante a tua missão encerra
o perscrutar do homem ante a Natureza!

Se alguém lá tu encontrares, diz que somos gente,
que estamos progredindo, mas inda há indigentes...
E que, apesar de tudo... A Terra é uma Beleza!

sábado, 11 de novembro de 2017

"OVELHA TOSQUIADA"













Jurei não me meter mais em política!
...Mas vejo o povo não politizado;
e o povo que é assim... é comandado;
não posso me omitir de fazer crítica!

É hora de fazermos autocrítica;
mister se faz cortar o que há de errado;
há muito senador e deputado,
em horda sanguessuga e paralítica!

− Reduzam-se os salários dos políticos −
pois, pelos resultados analíticos,
mais ganham, mais usurpam o poder!

Quem paga esse salário é quem trabalha,
é o povo que labuta por migalha;
...e é “ovelha tosquiada” até morrer!